Seja por uma dor lombar, uma “tendinite”, uma suspeita de hérnia discal, uma “dor ciática” ou um torcicolo, são várias as motivações que trazem pessoas até à FISIOVIDA. E na mente das pessoas está a crença que o nosso modelo de Fisioterapia Avançada, Osteopatia, RPG ou Acupuntura será a solução para resolver o seu problema….Efetivamente são métodos e técnicas de tratamento pertinentes para o tratamento destes problemas, contudo, o tratamento da dor começa muito antes de “serem colocadas as mãos” sobre o paciente. Explicamos o porquê da necessidade de perceber a dor e todos os seus mecanismos para o máximo sucesso na recuperação de qualquer um daqueles problemas:
O modelo biomédico, mais conhecido por modelo Cartesiano, e que deriva da ideia preconizada pelo filósofo Descartes há cerca de 450 anos, é ainda o mais usado pelos profissionais de saúde na gestão da dor. Atualmente, este modelo tem sido alvo de críticas por ser antiquado e totalmente inadequado face às evidências mais recentes sobre a neurofisiologia da dor. Contudo, apesar das atuais evidências no estudo da dor refutarem este modelo, o mesmo continua a ser usado na prática clínica pela maioria dos profissionais de saúde que “alimentam” a ideia aos pacientes de que a percepção que têm da dor é resultado da lesão dos seus tecidos.

Um exemplo concreto da aplicação deste modelo é quando um paciente vai ao médico e descreve a sua dor lombar expressando o quanto a dor lhe altera a qualidade de vida. O médico faz exames complementares de diagnóstico e mostra ao paciente, através de um Raio-X ou Ressonância Magnética que a causa da sua dor é uma hérnia discal ou alguma estrutura da coluna já com alterações degenerativas. De acordo com este modelo, a dor é causada por uma estrutura danificada, pelo que, seguindo essa lógica, a solução passa por corrigir a estrutura danificada! Contudo, quando isso é feito porque é que frequentemente a dor não passa?!

Antes de prosseguirmos, convém destacar o facto de que vários estudos científicos referem que o uso de termos como “herniado”, “rompido”, “discos gastos”, “vértebra danificada” aumenta o nível de ansiedade e medo nos pacientes o que gera a instalação de movimentos mais protegidos e menor atividade física pelo medo de lesão. Basciamente cria aquilo que é chamado de efeito NOCEBO!

Ao longo do último século, este modelo tem sido substituído pelo modelo biopsicossocial, segundo o qual, uma dor que persiste no tempo, após o tecido já ter tido o tempo necessário para cicatrizar, deve-se ao facto de que o sistema de alarme do corpo mantém-se ativo, e acaba por ser estimulado através de estímulos muito mais baixos e com menor quantidade de movimento do que numa situação normal seria necessário para ativar esse sistema de alarme.

Ter dor é uma experiência normal das pessoas. Sem dor as pessoas não poderiam sobreviver. Viver com a dor é que não é normal!

Dor que persiste para além do prazo normal de cicatrização de um tecido, chamada dor crónica, não deveria ser normal! Contudo, mundialmente a dor crónica tem vindo a aumentar. Só nos Estados Unidos da América, nos últimos 20 anos, a dor crónica duplicou o que gerou o aumento de custos na saúde por parte do Governo. A medicação para eliminação da dor subiu mais de 400%. E isto não é um fenómeno limitado apenas à realidade dos EUA mas tem uma representação à escala mundial.

À sombra do crescimento desta “epidemia” somos confrontados a colocar várias questões. Porque é que a dor crónica está a aumentar? Porque é que alguns dos tratamentos mais reconhecidos como injeções, opióides, cirurgias não estão a funcionar para tratar a dor crónica? A resposta a estas questões é complexa e contém uma variedade de aspetos.

Tradicionalmente, a medicina é fortemente enraizada no modelo biomédico, que assume que se há dor tem de haver algum dano estrutural! Claramente ERRADO! Segundo este modelo, um aumento na percepção da dor é resultado do aumento do dano estrutural!

A utilização do modelo biopsicosocial e a correta explicação do processo neurofisiológico da dor tem efeitos imediatos:

  • Diminuição da dor;
  • Melhoria do movimento por parte da pessoa;
  • Diminuição do medo o que gera maior aptidão das pessoas para o exercício;
  • Pensamentos sobre a dor mais positivos;
  • Conhecimento maior da dor.

    Como é que isto funciona?

    Primeiro, a educação terapéutica da dor pela perspetiva da neurociência muda a percepção de dor do paciente, porque o paciente deixa de acreditar que determinado tecido é a causa da sua dor e passa a compreender que a dor é resultado de uma sensibilização excessiva do SNC. Em segundo, o medo diminui e o paciente torna-se mais apto para exercício.

    Segue-se um exemplo prático de como pode ser implementado um programa de educação da dor:

    A Susana está com muita dor lombar e acredita que a sua dor está relacionada com uma hérnia discal. Contudo a dor está instalada há já cerca de 10 anos!

    É já assumido e reconhecido pela comunidade médica que um disco intervertebral danificado é reabsorvido entre 7-9 meses até ficar completamente curado. Então, porque continua a dor? A Susana acredita (por aquilo que os médicos lhe disseram) que a sua dor é causada pelo disco lesado. É altura de começarmos a explicar a complexa história da dor através de uma história/metáfora que ajude a mudar as suas crenças para podermos implementar um plano de tratamento que possa ser mais bem sucedido.

    Profissional saúde: “Se você pisasse um prego ao caminhar no bosque gostaria de ter conhecimento disso?

    Paciente: Claro

    Profissional de saúde: Porquê?

    Paciente: Porque era importante saber para tirar o prego do meu pé e evitar ter alguma infeção ou lesão maior!

    Profissional de saúde: Exato! Agora, como é que você sabe que tem um prego no seu pé? Como é que o prego chama a sua atenção?

    Paciente: Porque sinto dor!

    Profissional de saúde: Exato! O corpo humano contém inúmeros nervos espalhados pelo corpo, com um género de “eletricidade” neles, o que permite enviar constantemente informação para o cérebro e que garante que estamos vivos. Isto faz sentido?

    Paciente: Sim

    Profissional de saúde: Os nervos nos pés estão constantemente a fazer circular esta “eletricidade” até ao cerebro. Isto é normal e mostra que….

    Paciente: estou vivo

    Profissional de saúde: Sim. Agora, ao colocar o pé sobre um prego, o sistema de alarme é ativado. Assim que o alarme é conhecido pelo cérebro, com a mensagem de perigo vinda do pé até ao cérebro, este produz a dor. A dor faz com que pare no caminho e olhe para o pé para tratar do problema do prego. Correto?

    Paciente: Sim

    Profissional Saúde: Assim que removemos o prego o sistema de alarme deveria….?

    Paciente: Diminuir ou desligar.

    Profissional saúde: Exato. Nos dias seguintes, o sistema de alarme irá acalmar-se para o seu nível original, por isso ainda vai demorar uns dias até sentir o seu pé sem mazelas nenhumas. Isto é normal e esperado! Mas aqui vai a importante parte: uma em cada 4 pessoas, o sistema de alarme continua ativo mesmo depois da lesão ter ocorrido, mas nunca desce para os níveis originais, sendo desligado! Permanece sempre extra-sensitivo!
    Com o sistema de alarme extra-sensitivo e perto do “nível de disparo” não é necessário muito movimento, stress ou atividade para ativar o sistema de alarme. Quando isto acontece, certamente você pensa que algo deve estar errado! Baseado no meu exame hoje, eu acredito que uma grande parte da sua dor é devido a uma hipersensibilização do sistema de alarme. Então, em vez de nos focarmos em cicatrizar ou reparar os tecidos, nós iremos trabalhar numa variedade de estratégias para ajudar o sistema de alarme a acalmar-se e entrar em nível de repouso, o que vai ajudar automaticamente a permitir-lhe mexer mais, experimentar menos dor e regressar à função passada!”

    Este é um exemplo pratico de como se pode explicar toda a neurofisiologia da dor crónica de uma forma simples ao paciente e beneficiar o mesmo na ajuda à compreensão do fenómeno da dor aumentando a probabilidade de obter sucesso no plano de tratamento!

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