O Dia Mundial da Fisioterapia celebra-se anualmente a 8 de Setembro, desde 1996, dia da fundação da World Confederation of Physical Therapy (WCPT), em 1951. Esta data é celebrada por toda a comunidade de Fisioterapeutas a nível mundial e para assinalar este dia todos os anos é seleccionado um tema com impacto na saúde mundial. Este ano o tema é a dor crónica.
Qual o verdadeiro impacto da DOR CRÓNICA?
De acordo com a Direcção Geral da Saúde, a prevalência da dor crónica na população portuguesa adulta excede os 30%. A dor, em particular a dor crónica, tem impacto na pessoa muito para além do sofrimento que lhe causa, nomeadamente, sequelas psicológicas, isolamento, incapacidade e perda de qualidade de vida. Esse impacto pode ultrapassar a própria pessoa e envolver a família, cuidadores e amigos.
As repercussões socioeconómicas da dor são significativas pelos custos envolvidos em consultas médicas e na terapêutica mas também pela perda de produtividade e absentismo na actividade profissional.
A dor lombar é referenciada como a causa mais frequente e incapacitante mas são também descritas as dores cervicais, dor de ombro, osteoartrose, artrite reumatóide, dor de cabeça, cancro e fibromialgia.
Como surge a dor crónica?
Como é possível sentir dor mesmo quando não se encontra uma lesão física de origem, nem existe história de uma lesão antiga?
O estudo da neurofisiologia da dor baseado na melhor evidência científica é crucial para conseguir responder a estas questões e para auxiliar na abordagem das pessoas com dor.
Facto interessante é que vários estudos verificaram ser eficaz num processo de reabilitação de dor crónica a Educação acerca da Fisiologia da Dor, a par com a terapia manual e o exercício clínico.
Esta abordagem mostrou ser útil na descatastrofização da dor e na mudança de hábitos negativos para positivos, traduzindo-se num aumento da funcionalidade e diminuição dos sintomas. Para perceber como pode surgir a dor crónica é fundamental entender o mecanismo fisiológico da Dor para depois percebermos como este processo pode ser alterado e levar à situação de Dor Crónica.
O que é a Dor?
A dor segundo a definição da International Association for the Study of Pain (IASP) é “uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a uma lesão tecidular real ou potencial”.
Ninguém quer sentir dor mas reconhecemos que é fundamental para a nossa sobrevivência. É um sinal de alarme que nos informa do perigo e que nos encoraja a afastar dele. É também um mecanismo essencial ao desenvolvimento e aprendizagem.
A dor é definida como uma experiência individual, dependente de um processo complexo onde existe uma modulação do Sistema Nervoso Central (SNC) por mecanismos fisiológicos e psicológicos, bem como por fatores externos. O conhecimento atual dos mecanismos da dor teve um grande avanço a partir da década de 90, momento em que se começou a utilizar a ressonância magnética funcional para observar se as regiões do cérebro estavam ativas durante a dor e, de facto, verificaram que várias regiões cerebrais estão ativas durante a percepção da dor. Assim, sabe-se agora que a experiência da dor é modulada por vários processos, nomeadamente, a função cognitiva e emocional e determinada por influências genéticas e sensoriais. Estes avanços permitiram evoluir a Teoria de Gate Control, proposto por Melzack em 1965, para a Teoria da Neuromatrix da Dor.
A dor crónica é definida pela IASP como “dor que persiste para além do tempo de cura normal, ou superior a 3 meses”.
A dor ao persistir para além da cura da lesão que lhe deu origem ou na impossibilidade de objetivação de lesão passa a ser não informativa e patológica. Deve ser encarada como uma doença por si só e não como um sintoma, conforme reconhecido pela European Federation of Pain, em 2001.
Esta dor condiciona o indivíduo e poderá incapacitá-lo a vários níveis.
Apesar dos mecanismos da dor serem universais, a dor em si é sempre uma experiência única e deverá ser aceite e compreendida.
Nem sempre a intensidade da dor se relaciona com a quantidade de lesão tecidular.
O corte de papel, por exemplo, fino e superficial que leva muitas vezes a uma dor aguda e bastante intensa. Por outro lado, todos já ouvimos as histórias de soldados de guerra que perante lesões tecidulares profundas não sentiram dor no momento da lesão porque a necessidade de sobrevivência sobrepôs-se à dor.
No que se refere à dor lombar, pesquisas revelam que a intensidade de dor sentida raramente está relacionado à quantidade de danos do disco e do nervo. A degeneração é um processo normal de envelhecimento de todos os tecidos, ela não tem que contribuir obrigatoriamente para a experiência da dor nem de disfunção.
Sabe-se que sentir dor ou não, dependerá da interpretação do cérebro em relação à informação que chega da periferia como sendo uma ameaça ou não. Esta análise é influenciada pelo contexto, estado emocional, cultura e crenças, memórias de experiências anteriores e pela capacidade cognitiva.
Explicar a presença de dor sem lesão tornou-se crucial para a compreensão da dor crónica. Sabe-se agora que a verdadeira causa está no processamento e nos mecanismos fisiológicos da dor. Aprender sobre estes mecanismos ajudará a entender o que se passa com o seu corpo perante uma dor difusa e permanente, ajudando a compreender e a lidar melhor com a sua dor.
A equipa FISIOVIDA está aqui para o(a) ajudar!
Caso pretenda aprofundar mais a leitura deste tema sugerimos que leia o nosso artigo “Aprofundando Conhecimentos sobre Dor”
Autora do artigo:
BIBLIOGRAFIA:
Fisioterapeuta e Osteopata. Especialista em Reeducação Postural Global. Diretor Clínico da FISIOVIDA.
O fascínio pela fisioterapia e pelo empreendedorismo fazem com que a soma de ambas seja a fórmula perfeita encontrada pelo Samuel para, através da FISIOVIDA, ir ao encontro da sua maior paixão: transformar a vida das pessoas! Tem um enorme gosto pelo desporto sendo a prática de exercício uma atividade regular durante a semana, quer individualmente quer com os seus 4 filhos. Gosta muito de ouvir música e tocar o seu violino juntamente com a sua orquestra familiar. Viajar, de preferência em família e para destinos que possibilitem apreciar a natureza, é algo que procura fazer com frequência.